Aweng Chuol, modelo que é capa da Vogue de junho/julho

O interesse pela ONU não é gratuito. Aweng nasceu em um campo de refugiados no Quênia, o Kakuma, que abriga milhares de refugiados de conflitos no nordeste africano. “Minha mãe nasceu no Sudão e perdeu os pais muito cedo por causa da guerra”, diz. Ela se refere à Segunda Guerra Civil Sudanesa, um conflito religioso entre o Sudão e o Sudão do Sul, que culminou na morte de 2 milhões de pessoas entre 1983 e 2005 e no deslocamento forçado de outros 4 milhões. “No caminho para o Quênia, quando tinha 14 anos, minha mãe conheceu meu pai, que tinha sido uma criança soldado. Quando chegaram em Kakuma, estava grávida de mim. Eu e outros três irmãos nascemos lá”, conta. Apesar do contexto de guerra, Aweng diz que carrega lembranças felizes da sua primeira infância. “A guerra estava lá, mas as crianças não sabiam de tudo e o campo em si era um lugar seguro. Eu passava o dia brincando, subindo em árvores. É dessas brincadeiras que trago as cicatrizes que tenho no rosto. Eu era uma criança muito desajeitada. Ainda sou uma adulta desajeitada”, diz. Entre as lembranças felizes, também estão as músicas dos Jackson 5, que tocavam na rádio do campo, e a sopa de quiabo com carne e cebola servida com arroz, um prato tradicional do região. “Eu era criança e não tinha a capacidade de pensar a respeito da situação que tenho hoje.” No campo de refugiados, seus pais reecontraram familiares, entre eles um casal de tios de sua mãe, que a ajudou a criar os filhos, a quem Aweng chama de avós. O avô era pastor da Igreja Católica e, graças a essas conexões, conseguiu refúgio para a família na Austrália. “Ele tirou umas 40 famílias da situação de guerra desta forma. A igreja patrocinava as viagens. Sou muito grata por isso.”

A ligação da família com a igreja também fez com que Aweng crescesse entre cantos, orações e sempre com a presença da Bíblia. “Mas não me tornei uma pessoa religiosa. Encontrei meu próprio caminho para lidar com a espiritualidade. Entendi que nossa energia nunca morre. E isso é ciência básica: energia não morre. Com essa consciência, me conectei ao meu poder e aprendi coisas de diferentes religiões e estou tentando ficar mais calma, paciente e disciplinada a cada dia.” Entre seus estudos, Aweng diz que se debruçou recentemente sobre temas como numerologia, alquimia e a história de religiões como o budismo, hinduismo. Não deixa de lado, no entanto, os artigos científicos. “Adoro ler sobre ciência, especialmente quando há alguma ligação entre espiritualidade e o cérebro. Sou uma nerd”, diz, aos risos. Nesses mergulhos, descobriu o poder da meditação, que pratica todos os dias, durante pelo menos uma hora. “Se fico ansiosa, gosto de pensar sobre a questão muito profundamente. Quando recebi o convite para ser capa da Vogue Brasil, por exemplo, meditei sobre isso para poder me sentir pronta para este trabalho.

Fonte: Vogue BR

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