Upcycling beauty: movimento promete um futuro mais sustentável para o universo de beleza

Na esteira de uma maior procura por produtos verdes e com certificações ambientais – um estudo recente da plataforma de pesquisa de tendências norte-americana Beautystreams com 1.200 consumidores da Gen Z aponta, por exemplo, que 73% deles priorizam a sustentabilidade em suas escolhas –, uma maneira ainda pouco explorada de consumir cosméticos e cuidar da pele e do cabelo ganha cada vez mais espaço. Estamos falando do upcycling beauty, movimento que consiste no reaproveitamento de insumos que seriam descartados por empresas de diversos segmentos para utilizá-los com motivos nobres, aumentando seus ciclos de vida. Similar, por exemplo, ao que acontece na moda quando uma peça vintage é repaginada e ganha um apelo estético mais atual.

A prática é protagonista na Ziel, marca brasileira lançada no final de 2021. "Nós iniciamos [a captação de insumos de upcycling] pela indústria de vinhos e sucos de uva, que é muito forte na nossa região (Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha). Todos os anos, durante a vindima, são colhidas toneladas de uva, mas as empresas acabam utilizando apenas a parte interna do grão, descartando a casca e as sementes. A questão é que essas partes que vão para o lixo são, na verdade, ingredientes muito nobres para o cuidado do cabelo e da pele. Quando percebi isso é que surgiu a ideia de reaproveitá-los", afirma a fundadora e CEO Ana Koff. "A partir disso, fui ler e entendi que já existiam marcas ainda pequenas no exterior que trabalhavam com outros materiais de upcycling. Me sinto muito honrada de ter iniciado esse movimento no Brasil", conta. O portfólio da Ziel conta com fórmulas exclusivas de xampu, condicionador, sabonetes, hidratante e ainda uma bath bubble feita a partir do cristal que se forma durante a fermentação do vinho – a primeira desenvolvida utilizando a técnica do mundo.

Melhor para a beleza e para o planeta

Ana, que é formada em farmácia, já passou por grandes empresas do segmento como Eurofarma e Aché como executiva, e sonhava em abrir sua própria empresa de cosméticos desde os 15 anos, destacou também que, diferentemente do que muitas pessoas pensam, os produtos de origem natural conseguem garantir resultados ainda melhores do que os sintéticos. "Em termos de performance e qualidade, costumo dar o exemplo do óleo vegetal. A maioria das marcas convencionais utiliza como emoliente o óleo mineral, que advém do petróleo, algo sintético que não tem biocompatibilidade com a pele. Já os cosméticos naturais utilizam óleos vegetais na composição. Sabemos que são muito ricos em ácidos graxos, ceramidas, entre outras coisas que já fazem parte da barreira de proteção da derme, por isso há um nível de hidratação efetivo muito maior", detalha. "Tudo o que é natural é muito rico em fitoativos, e tudo o que for vegetal é possível usar no upcycling porque toda a planta tem uma casca, raiz ou folha repletas de óleos, fibras e ceras. Na natureza tudo se reaproveita. O ser humano é que criou o lixo."

O ápice da sustentabilidade

Apesar de entender a importância desse movimento – afinal, somente no Brasil são cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos gerados por ano, segundo o IBGE – Ana também acredita que existe um tempo para que essas mudanças comecem a ser colocadas em prática. "É uma mudança de paradigma e uma questão de maturidade. As marcas começaram, em um primeiro momento, a entender que não precisavam testar em animais. Depois, que podiam utilizar matérias-primas veganas e trabalhar com ingredientes naturais. É uma escadinha. Costumo comparar muito o que aconteceu com o mundo do alimento com o que está se passando agora com a indústria cosmética, das pessoas passarem a prestar mais atenção no que estava escrito nos rótulos, se aquilo que estavam consumindo realmente fazia bem. Quando chegamos nesse ponto de conseguir reaproveitar insumos que seriam descartados, será o ápice. Existe um timing de maturação até chegar nessa consciência."

A Ziel, aliás, nasceu também cumprindo todos os steps dessa escada citada por Ana. "Costumo brincar que a gente tem todos os checks de segurança e sustentabilidade possíveis. Somos veganos e sem crueldade animal; nossos produtos têm 98% das matérias-primas de origem natural; estamos em processo de certificação EWG (Environmental Working Group), que confere que a marca não utiliza nenhum ingrediente que tenha carga nociva, uma vez que não usamos nada de parabenos, petróleo, fragrâncias sintéticas e afins. Somos também zero plástico, não usamos nem mesmo verniz nas embalagens. Até mesmo a fita que fecha a caixinha que vai nos correios não tem composição plástica; trabalhamos com o conceito Waterless por apostarmos no formato de barras; compensamos 100% do carbono emitido nas entregas e 200% de todo o papel das embalagens dos produtos. Ou seja, ao comprar Ziel, você está inclusive ajudando o meio ambiente", resume.

Os próximos passos

Depois de desbravar um caminho ainda desconhecido em terras brasileiras por meio dos insumos da uva, Ana adiantou à Vogue que já planeja os próximos passos da marca: "Estamos trabalhando com a casca da maçã de plantações orgânicas da região de São Joaquim, em Santa Catarina. A gente faz um processo de secagem da casca, que é rica em antioxidantes, a transforma em farinha e a utiliza na formulação de xampu e condicionador infantis que vão ser lançados na primeira semana de setembro. Temos também muitos lançamentos previstos para o futuro – são mais de 40 com outras fontes de upcycling."


Fonte:

Vogue.

  

Anterior
Anterior

Sustentabilidade na Moda Consciente: Vestindo o Futuro com Responsabilidade

Próximo
Próximo

Moda Sustentável Regenerativa: Vestindo o Futuro com Responsabilidade